IPCA: país registra deflação de 0,68% em julho, mas no acumulado em 12 meses taxa segue em 2 dígitos

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O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, teve queda de 0,68% em julho, após ter registrado alta 0,67% em junho, segundo divulgou nesta terça-feira (9) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o país registrou uma deflação – inflação negativa – a primeira depois de 25 meses seguidos de alta de preços.Segundo o IBGE, foi a menor taxa registrada desde o início da série histórica, iniciada em janeiro de 1980. No ano, a inflação acumulada é de 4,77%. No acumulado nos últimos 12 meses a taxa desacelerou para 10,07%, contra os 11,89% registrados nos 12 meses imediatamente anteriores.O resultado veio dentro do esperado. A mediana das projeções de 36 instituições colhidas pelo Valor Data era de queda de 0,65% no IPCA de julho.

O que explica a deflação?

A deflação em julho é explicada principalmente pelo recuo dos preços dos combustíveis e energia. As variações negativas destes itens refletem a queda nos preços praticados nas refinarias da Petrobras e também a redução das alíquotas de ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços) aplicada a partir da Lei Complementar 194/22, sancionada no final de junho.O IBGE destacou que, além da redução da alíquota de ICMS cobrada sobre os serviços de energia elétrica, outro fator que influenciou o recuo do grupo habitação foi a aprovação, pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), das Revisões Tarifárias Extraordinárias de dez distribuidoras espalhadas pelo país, o que acarretou redução nas tarifas a partir de 13 de julho.A diminuição dos impostos, em ano eleitoral, foi uma estratégia adotada pelo governo e pelo Congresso. No entanto, apesar de segurarem a inflação em 2022, essas medidas pressionam os preços para 2023, conforme alertam diversos economistas.A avaliação dos analistas é que a deflação é momentânea e que alta de preços continua generalizada.A inflação de serviços, por exemplo, desacelerou de 0,90% em junho para 0,80% em julho. Em 12 meses, porém, o índice de serviços chegou a 8,87%, o maior patamar desde junho de 2014, quando ficou em 9,20%.6 em cada 10 itens pesquisados ficaram mais caros em julhoEmbora a deflação tenha ficado concentrada em poucos grupos, a alta de preços teve menor espalhamento em julho. O índice de difusão desacelerou de 67% em junho para 63% no mês passado – o menor desde março de 2021. Isso significa que dos 377 produtos e serviços investigados pelo IBGE, 237 tiveram alta de preços no mês – em junho, foram 252 em alta.Dos 9 grupos de produtos e serviços pesquisados, dois apresentaram deflação em julho, enquanto os outros sete tiveram alta de preços. O resultado do mês foi influenciado principalmente pelos custos dos grupos Transportes (-4,51%) e Habitação (-1,05%).

Veja a inflação de julho para cada um dos grupos pesquisados:

Alimentação e bebidas: 1,30%
Habitação: -1,05%
Artigos de residência: 0,12%
Vestuário: 0,58%
Transportes: -4,51%
Saúde e cuidados pessoais: 0,49%
Despesas pessoais: 1,13%
Educação: 0,06%
Comunicação: 0,07%

“Estamos no período de entressafra, que vai mais ou menos de março até setembro, outubro, ou seja, um período em que as pastagens estão mais secas e isso reduz a oferta de leite no mercado e o fato de os custos da produção estarem muito altos”, explicou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.

A alta do leite contribuiu especialmente para o resultado da alimentação no domicílio, que acelerou de 0,63% em junho para 1,47% em julho. Já a alimentação fora do domicílio (0,82%) desacelerou em relação a junho (1,26%), em virtude das altas menos intensas do lanche (1,32%) e da refeição (0,53%).

Outro destaque de alta foram as frutas, com aumento de 4,40%. No lado das quedas, os maiores recuos de preços vieram do tomate (-23,68%), da batata-inglesa (-16,62%) e da cenoura (-15,34%).

Além dos alimentos, outros itens que tiveram alta relevante em julho foram passagens aéreas (8,02%), taxa de água e esgoto (0,96%), empregado doméstico (1,25%) e cigarro (4,37%).

Para o próximo ano, a meta de inflação foi fixada em 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%. Ou seja, crescem as apostas de um estouro do teto da meta também no ano que vem.

Mesmo com a indicação de que o pior já passou para a inflação, o BC elevou na semana passada a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, a 13,75% – maior patamar em 6 anos.

Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), ocorrida na semana passada, o Banco Central informou que optou por “dar ênfase à inflação acumulada em doze meses no primeiro trimestre de 2024, que reflete o horizonte relevante [para definição da taxa de juros]”. Com isso, indica que a meta de inflação pode ser superada em 2023 pelo terceiro ano seguido.

O BC também manifestou preocupação com o aumento de gastos em ano eleitoral promovido por meio da PEC Kamizaze — que que driblou a lei e turbinou benefícios sociais. De acordo com a ata. políticas temporárias de apoio à renda devem trazer estimular o consumo por parte da população. Argumentou, ainda, que o “prolongamento” de tais políticas “pode elevar os prêmios de risco do país” (aumentando as taxas de juros ainda mais) e as expectativas de inflação à medida que “pioram a trajetória fiscal’ – o resultado das contas públicas.


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