A vida urge e o grande desafio é ser feliz
Dra. Cristina Lopes foi vítima de violência doméstica praticada pelo seu ex-marido. Ela teve seu corpo queimado. Foto: Divulgação
O dia 06 de fevereiro de 1986 ficou marcado extremamente em minha vida. Momento em que estive ali só eu e o agressor frente a frente. O trauma paralisa o tempo que te leva de volta para lembranças daqueles instantes que não parecem passar. O corpo responde, a frequência cardíaca acelera, o suor escorre, a respiração fica ofegante, a voz embarga e a mente fica em estado de alerta.
Poucas mulheres que passaram pelo que eu passei tem a oportunidade de relatar o que escrevo aqui, pois elas estão mortas. Este mês de março, motivado pelo dia 08, me coloca para dialogar com crianças, jovens, famílias, profissionais, especialmente em ambientes de ensino e pesquisa. Manoela Barbosa e Lara Damiane, através do Fundo de Arte e Cultura produziram um HQ (História em Quadrinhos) que relata a história da biofarmacêutica Maria da Penha. Esse instrumento nos possibilita dialogar, fazer refletir, agir.
O que eu posso fazer para reduzir essa epidemia de violência que permeia nossos dias?
Soluções “mágicas” como o do Projeto Bolsa Arma que coloca sobre a mulher a responsabilidade de garantir sua própria segurança. Projeto que isenta o estado de sua responsabilidade constitucional. Me coloco a pensar se no dia 06 de fevereiro de 1986 eu tivesse uma arma na mão, atiraria? Respondo não. Definitivamente não. Pois sou uma pessoa que acredito no amor como solução. Para conflitos acredito no diálogo. E sei que mesmo se fosse capaz de apontar uma arma para o meu agressor antes mesmo de apertar o gatilho, ele podia me atacar pois fisicamente temos desvantagem física.
Em geral a força masculina absoluta média é de 63,5% por cento da força do homem. A força muscular da parte superior do corpo das mulheres é de quase 55,8% da força dos homens segundo o posicionamento oficial da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Nossa força física é menor porém nossa força emocional é muito superior. Geramos vida. Temos a força da fecundação. A grande solução está em equilibrar nossas divergências, convergências para de maneira urgente criar relacionamentos mais equilibrados, mais saudáveis e em um futuro próximo comemorarmos o 08 de março e todos os dias de nossas vidas. Vida em casal ou vida em solteira. A vida urge e o grande desafio é ser feliz.
Seja!
Mulher vítimas de violência podem ligar no 180 para denunciar ou pedir ajuda
