Cadê o prefeito?

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O atual prefeito, Rogério Cruz, até então, era um político relativamente desconhecido, embora já tenha sido por duas vezes vereador pela capital goiana.
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As eleições municipais acontecerão no próximo ano, é bem verdade. Mas, tomando emprestadas as palavras do primeiro presidente civil após anos de ditadura militar no Brasil, Tancredo Neves, “em política, nunca é cedo demais”, por isso, as peças do tabuleiro já começam a se movimentar com mais objetividade.

Em Goiânia, desde 2021, impera uma visão comumente comentada de que vivemos sob a égide de um mandato-tampão. Explico. O atual prefeito, Rogério Cruz, até então, era um político relativamente desconhecido, embora já tenha sido por duas vezes vereador pela capital goiana. Ocorre que sua atuação foi muito segmentada ao público evangélico, especificamente, voltada aos fieis da Igreja Universal do Reino de Deus. Por uma mexida do destino, em decorrência do falecimento do candidato eleito em 2020, Maguito Vilela, Cruz, vice da chapa exitosa, assume as rédeas da gestão, sucedendo nada mais, nada menos que um dos maiores líderes da política local e regional, Iris Rezende.

Não bastasse o inevitável fardo da comparação com o desempenho irista, que, em si, seria desafiador para qualquer um que assumisse a administração da cidade em 2021, Rogério Cruz viu-se, logo no início do mandato, desamparado pelo grupo político predominante na construção daquela chapa, qual seja, o ligado ao MDB, presidido por Daniel Vilela, filho de Maguito.

Com aquela marcante cisão, o prefeito recém empossado caiu no colo de duas forças políticas concorrentes na ascensão sobre o Paço: a “turma de Brasília” – como ficaram conhecidos os procuradores do partido Republicanos no DF que foram endereçados à esta capital para auxiliar o gestor – e a Câmara Municipal, que para mergulhar na onda da governabilidade acabou cobrando um preço alto do prefeito, isto é, espaços de poder a perder de vista.

Atuando a partir dessas duas bases, uma voltada aos interesses partidários e outra à tentativa de ganhar legitimação popular e capilaridade, Rogério Cruz passou a ser facilmente confundido como o prefeito sem muito comando. Ouvia-se pelos corredores do poder que Goiânia era provida de dois prefeitos de fato e um de direito. Essa mácula foi paulatinamente se impregnando à figura do prefeito, que passou a ser visto pela população com muita desconfiança e ceticismo, ainda que fosse crível o seu interesse pessoal em acertar. Se, de modo geral, a boa intenção solitária costuma ser dispensável, imaginem na política!

Essas questões delicadas foram se somando à dificuldade evidente de atrair bons quadros político-técnicos para a gestão, o que resulta em serviços públicos prestados de maneira questionáveis e, em função disso, em muitas críticas populares e baixa aprovação do governo. Goiânia está cambaleando na estética, na funcionalidade dos espaços públicos e na política e Cruz ainda não conseguiu, ao menos é o que aparenta, tomar para si as rédeas da sua gestão. Recentemente, a turma de Brasília, que operava os acordos de governo, foi trocada por um político experiente, mas que tem tido dificuldades significativas no trato com vereadores e grupos que cercam o prefeito.

Neste diapasão, não havendo vácuo de poder, mas sobrando esperteza de não se aproximar demais de quem só colhe desgastes, forças políticas já começam a se articular para fazer páreo ao atual prefeito nas eleições do ano que vem. A Câmara já expõe sua inclinação dissidente, tanto é que aprovou, com votos da base, uma CEI na semana passada. Isso não é um bom sinal pro Paço, entretanto, o gestor parece apostar numa postura insular, blindando-se desses acontecimentos e fingindo não ver o óbvio: o cerco está se fechando.

Resta ao prefeito colocar suas barbas de molho porque a comunidade e a imprensa pipocam, dia após dia, prefeitáveis para o ano que vem, sem tampouco levar em consideração que ainda temos um e que este deve buscar defender sua gestão numa tentativa de reeleição. Mas para que este grito de “ei, eu estou aqui” possa ser ouvido definitivamente, é preciso que Rogério Cruz não apenas diga-se presente, mas faça-se presente perante sua administração. Está na hora!

 


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