Homem sentado pensando.
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Lembranças

O progresso, ao contrário do que a maioria de nós pensamos, não gera apenas benefícios. Na verdade, tudo o que evolui destrói um pouco de suas raízes até que, num dado momento, nem as lembranças de seu nascedouro sobrevivem. E essa constatação é ainda mais impiedosa quando tentamos encontrar os traços que ainda podem restar dos homens e mulheres que construíram nossa história.

Bem sei que muitos vão dizer, na lata, que estou errado, que a história faz jus à quem ela gera. Me obrigo a contestar essa afirmativa novamente, exatamente pelo fato de que nem a história consegue ser fiel em toda a sua plenitude.

Para que entendam o que afirmo, vou recorrer a uma mensagem que me foi enviada por um amigo. O texto falava dos grandes gênios da humanidade e de seus feitos gloriosos. Desfilavam por ali Einstein, Tomas Edson, Fleming, Pitágoras, Sabin e uma centena de outros nomes ilustres. A cada um era ressaltada a sua glória, mas em seguida vinha alguns questionamentos: será que Ford,Churchill, Robespierre, Vitor Hugo ou Miquelangelo teriam feito o que fizeram se não tivessem no tempo de cada um, um professor que lhes descortinou o conhecimento? Um lavrador que plantou a comida que de cada um se serviu?. E mais, quem produziu as roupas que cada um deles usou ou mesmo quem as lavava, quando necessário?

O ser humano não é uma ilha. Ele não sobrevive sem seu semelhante. Até para ser carrasco é preciso antes, que tenha-se a quem flagelar ou eliminar. É aí que entendo não ser possível à história ser justa na sua mais ampla acepção. É que isso seria impossível ao homem que a escrevesse, pois as lembranças se esvairiam com o tempo como se fosse alos de fumaça em fogo de palha seca.

Para ilustrar o que digo, pergunto:

Quantas pessoas residentes no bairro de Campinas, em Goiânia, sabem quem foi Licardino de Oliveira Ney ?Que importância esse cidadão tem para Goiânia?

Aposto que muitos poucos vão afirmar, com certeza que o último prefeito da  antiga cidade de Campinas, hoje o bairro que gerou Goiânia, ainda empresta seu nome  à uma rua que margeia a Praça Joaquim Lúcio. Assim como Licardino, milhares de outros ilustres cidadãos escreveram a história de nossa capital e seus feitos e nomes se sucumbiram no vendaval que consome todas as lembranças. Mas esse é um mal necessário, até porque concentra em si uma das mais preciosas lições que a vida nos dá e que teimamos em não praticá-la fora do sempre muito fechado e particular núcleo de amigos e familiares: a capacidade de nos ver no nosso semelhante.

E como as boas coisas da vida não são mesmo divididas com todo mundo, continuamos ignorando que somos todos os dentes de uma mesma engrenagem que atua com o mesmo objetivo. Só que, embora estejamos construindo o que se supõe ser o bem comum, nem sempre desejamos partilhar essa conquista como um fruto comum a todos nós.

Isso explica porque também precisamos evoluir.


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