Dias de luta e dias de glória: a jornada feminina no mundo corporativo

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As mulheres enfrentam mais dificuldades para acessar postos de liderança
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Este é um tema muito complexo com várias nuances, coisas boas, outras não tão boas, e coisas muito ruins que nos acompanham nessa jornada. Vamos começar entendendo como chegamos onde estamos. As mulheres que ficavam cuidando da casa e da família, principalmente na segunda guerra mundial, precisaram ir para o mercado de trabalho para fazer a economia girar, já que a maioria dos homens estava no campo de batalha. Muitos homens faleceram, o que fez com as mulheres se tornassem chefes de famílias.

Assim as mulheres foram para o mercado de trabalho para garantir a sobrevivência da família e da comunidade em que elas viviam. A partir daí nós percebemos que não era necessário mais ficar dentro de casa por conta dos afazeres domésticos, subordinadas a uma estrutura patriarcal e aos quereres dos maridos.

A partir de 1940, até os dias de hoje é importante analisarmos como foi essa jornada das mulheres no mundo corporativo. Nós tivemos, nas últimas três décadas, um aumento significativo de mulheres no mercado de trabalho, em postos administrativos e de relacionamento com o cliente, enquanto os homens continuam sendo maioria nos cargos operacionais e técnicos. Isso se deve tanto àquela idéia da “fragilidade da mulher para pegar no pesado”, como por exemplo, para consertar carro, trabalhar em obra, dirigir caminhão, etc.

E também ao fato das mulheres terem aumentado os anos de estudo. Hoje as pesquisas apontam que as mulheres estudam mais que os homens, isso faz com que elas assumam mais os cargos administrativos, comercial e de escritório, e isso é muito positivo. Infelizmente essa equidade que temos de 50% homens e 50% mulheres que entram no mundo corporativo, quando falamos de liderança, de assumir postos de gestão, esse percentual cai muito. Entra a mesma quantidade de homens e mulheres nas vagas de Auxiliares, Assistentes e Analistas, mas na jornada para assumir postos de Lideranças, seja uma coordenação ou uma gerência júnior, já temos uma queda significativa do número de mulheres, caindo para um percentual de 30%.

Isso acontece por alguns motivos. A carreira da mulher normalmente é interrompida pelas questões familiares e pelo papel cultural que ela ocupa, de “ter” que cuidar da casa, dos filhos, do marido, de cuidar de alguém doente na família. Quando ela está prestes a assumir um posto de gestão pela experiência que ela adquiriu, essa interrupção da carreira pode ser um problema.

Outro tipo de interrupção é que ainda é a mulher, na maioria das vezes, que acompanha a carreira do marido e se ela se casou com um profissional que muda muito de cidade a carreira dela também é impactada por esse movimento.
Outro ponto que eu percebo que diminui o acesso das mulheres aos postos de gestão, de diretoria e CEO, quando o percentual cai para 15%, tem a ver com as escolhas que são feitas inclusive nos processos seletivos, seja da pessoa que vai entrar no nível de Diretoria, seja da pessoa que está passando por um processo de promoção interna. Isso acontece pelo o número praticamente maciço de homens nos postos de Alta Gestão.

O Diretor/C-level pensa: “se sou um bom profissional, tendo a acreditar que pessoas igual a mim, são os melhores profissionais para assumirem cargos parecidos com o meu”. E em muitos casos essa atitude nem é intencional, é o que chamamos, na Neurociência, de vieses inconscientes. Logo, temos um círculo viciosos que diminui sensivelmente o percentual de mulheres como Diretoras, Presidentes e Conselheiras nas maiores organizações.

Esse cenário de predominância masculina, machista e patriarcal nos postos de alta gestão faz com que a cultura das organizações seja perversa com as mulheres. As questões de assédio, do assédio moral ao assédio sexual, estão ligadas às relações de poder, as relações hierárquicas, ao não entendimento da jornada tripla ou quadrupla que as mulheres exercem.

Temos por exemplo, questões familiares que já descriminam as mulheres logo na entrevista de emprego ou na avaliação de desempenho para uma promoção. Perguntas como: você tem filho? quem cuida? pretende engravidar logo? Todos esses pontos acabam deixando nós mulheres, de alguma forma acuadas no mundo corporativo. Acabamos tendo dificuldade de negociar os salários tão bem quanto os homens conseguem, porque a estrutura e o sistema acabam tornando isso mais fácil para os homens.

Apesar de todo esse cenário, percebemos que o mundo corporativo começa a identificar que algumas competências necessárias são consideradas “competências femininas”. A empatia, a comunicação, tratar as pessoas diferentes de forma singular, e assim se começa a ter a valorização do “jeito feminino” de agir e liderar. Hoje temos os RHs buscando essa liderança positiva para diminuir a diferença e buscar a equidade como forma de tornar as empresas mais sustentáveis.

Temos a sociedade civil organizada criando muitos movimentos que vão garantir que essas diferenças diminuam cada vez mais. Temos vários movimentos de mulheres empreendedoras, como por exemplo, o Movimento mais Prá Elas, o Conexão Mulheres/ Rede Alumni, Grupo Mulheres do Brasil. O Mulheres do Brasil tem um comitê específico para discutir a desigualdade de gêneros no mundo corporativo.

Há alguns anos foi feita uma pesquisa e levantou-se que se não houver nenhum tipo de ação afirmativa para diminuir a desigualdade entre homens e mulheres no mundo corporativo em postos de alta gestão, demoraria cerca de 80 anos para se chegar a essa equidade “naturalmente”. Então com esses movimentos temos ações para andar mais rápido para conseguirmos diminuir essa diferença entre homens e mulheres no mundo organizacional.

Nós mulheres precisamos cada vez mais nos apoiarmos dentro e fora do mundo corporativo, até porque se dentro da empresa você não tem um ambiente tão saudável, essa rede de apoio que você tem fora da empresa é o que vai te fortalecer para que você possa trilhar a sua carreira de uma forma mais interessante. Pós-pandemia as relações de trabalho se tornaram mais amigáveis às mulheres. Trabalhar em casa, com horários flexíveis, está trazendo novamente muitas mulheres para o mercado de trabalho em vagas de grande qualidade.

Sim, a jornada é longa, e árdua! Mas entre os pedregulhos, sempre nascem flores valente, resistentes e que embelezam o caminho. Parabéns a todas nós MENINAS, MULHERES, MÃES, AVÓS, e não só nesse mês de março.


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