Lagoa Santa: cidade está no Roteiro das águas goianas
Lagoa Santa faz divisa com Mato Grosso do Sul. Pé na estrada e disposição para buscar um lugar com águas quentes e termais, além de muito sossego a 440km de Goiânia.
Já dizia o filósofo chinês Lao Tzu que “uma jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo”. E o Brasil, país continental, nos abre possibilidades imensas de iniciar essa jornada para abraçar o mundo. Mas é preciso primeiro conhecer melhor onde se vive. Goiás, por exemplo, tem muitos lugares pouco conhecidos entre os seus 256 municípios. E se você, caro leitor, acha que só existe água quente e termal em Caldas Novas ou em Rio Quente, se engana. Na divisa com o Mato Grosso do Sul, sudeste goiano, a gente encontra águas medicinais semelhantes.
Esta é uma região privilegiada. As águas da chuva infiltram na terra e passam pelo processo de geotermia, o que leva ao aquecimento natural pelo calor do solo profundo. Essa água quente aflora em rios, lagos e lagoas. Caso da pequena Lagoa Santa. Para chegar é preciso pegar a rodovia GO 302 em direção ao Mato Grosso do Sul.
E quando o dia amanhece é que percebemos a beleza do lugar. Uma fumaça densa sobre a lagoa nos dá a impressão que o local está pegando fogo. Com as luzes do nascer do sol e sem ninguém, é que nos damos conta do que a natureza é capaz. E é mais do que necessário preservar para que futuras gerações possam se beneficiar das águas termais e quentes da Lagoa Santa e da Lagoa Central.
A Thermas Lagoa Quente é proprietária de uma área de 370 mil metros quadrados onde se localiza a fonte das águas quentes. E controla a entrada de pessoas. A partir das 18 horas o acesso à lagoa é fechado para o descanso da flora e fauna e para a reposição natural da água. Com temperatura média de 31 graus, o poço artesiano que abastece o complexo turístico possui uma vazão de 150 metros cúbicos por hora. A água mineral foi analisada pelo Departamento Nacional de Propriedades Minerais (DNPM) e confirmada a sua pureza já na década de 1970.
No início, quando foi descoberta a lagoa pelo fazendeiro mineiro Virgílio Ferraz, os banhos tinham duração de duas horas para homens e duas horas para mulheres. O banho misto como acontece hoje era proibido, mas estamos falando do final do século XVIII até meados do século XX.
As casas de pau a pique, as antigas hospedarias que ficavam no entorno da lagoa de águas termais dos séculos XVIII e início do XX já não existem mais, nem as pinguelas (pequenas pontes de madeira como dizem moradores da região), já não existem mais. Deram lugar ao complexo turístico, ao desenvolvimento econômico e o que vimos por lá é que existe um trabalho de preservação e que assim continue. O município cresceu em função das águas termais da Lagoa Central, tombada patrimônio do município como forma de preservá-la.
Outros lugares para visitar
Para conhecer a cidade é preciso andar um pouco. Na orla da Lagoa Central fica o Horto, antiga Mata da Jangada que perdeu muito da vegetação natural. A maior parte das árvores do local são de replantios feitos no século XX. Mas não diminui a beleza do lugar.
Um dos pontos mais altos da cidade é o Mirante Morro do Cruzeiro, de onde se tem uma bela vista da região ainda preservada, como os contrafortes da Serra do Espinhaço e parte da Serra do Curral. O mirante faz parte do complexo tombado da Praça do Cruzeiro e onde está a capela de Nossa Senhora da Conceição construída no final do século XIX.
No orla da Lagoa Central também fica o Clube Náutico Joá ou mais conhecido como Iate Clube, construído na década de 1950 com arquitetura de formas sinuosas revestidas por pastilhas italianos e piso interno de mármore Carrara. A construção faz referência a obras do arquiteto Oscar Niemayer. O clube foi uma ideia da elite belo-horizontina, que antes dos goianos, na década de 1950, se encantaram com as propriedades minerais das águas termais. Recentemente o deque de madeira e o espaço foram revitalizados e de lá pode-se apreciar um lindo por do sol.
História
Alguns falam que a região foi descoberta no século XIX entre os anos de 1880 e 1890 por desbravadores de terras no Brasil Central. E foi nessas andanças que um grupo chegou às margens do Rio Aporé na região Sudeste de Goiás e encontrou uma lagoa de águas cristalinas e quente. E aos poucos foram sendo construídas casas de pau a pique e hospedarias.
Muitas já não existem mais e o entorno da lagoa começou a ser habitado. Mas as lembranças não saem da memória. Filha de pioneiros, em uma conversa anos atras, Eleuza Ferraz de Moraes, contou que quem construiu a primeira casa de pau a pique e algumas pinguelas (pontes de madeira) foi o pai dela, Antônio Luiz de Moraes.
Com fama que corria pela região, a Lagoa Santa do Aporé, como inicialmente era chamada, atraiu a atenção de empresários. E foi assim, que na década de 1970 surgiu o complexo turístico Thermas da Lagoa Santa, após o proprietário adquirir a lavra no DNPM. As casas e pensões construídas na orla da lagoa foram retiradas e, de acordo com informações do site da empresa, todos foram indenizados na época. Mas muito foi preservado.
Lagoa Santa já foi distrito de Itajá, que, curiosamente surgiu muito depois. A cidade fica a 440 km de Goiânia e hoje faz parte do Roteiro das Águas de Goiás. E nada melhor que sentar na praça, conversar com os moradores e ouvir as diversas histórias do lugar. Até o próximo passeio, porque é pé na estrada e alegria no coração para conhecer esse país maravilhoso.