Livro sobre comunicação e política faz leitura profunda sobre o Brasil

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professor lança livro sobre política e comunicação
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O caminho de um profissional, independente em qual área ele atue, dá uma pausa no momento em que ele admite quem é e o que fez para subir e descer tantos degraus na sua rotina diária.

Esse caminho pode ser mais exigente quando esse profissional é da área da comunicação política. Ainda mais quando esse próprio autor se define como “perseguidor de comunicação política em um Estado periférico brasileiro”.

O jornalista político, professor e escritor Luiz Carlos do Carmo Fernandes, lançou o livro “Faces Comunicacionais da Política” em fevereiro deste ano. O livro tem 146 páginas.

Nesta entrevista concedida ao portal Sinal Aberto o jornalista, que é um dos poucos profissionais que sabem dos bastidores e escalas de mediação de entrevistas eleitorais falou sobre a obra dele.

Redação: No livro o senhor fala da sua fase de jornalista desde de 1995 (na academia) até o ano de 2023. Como você avalia essa comunicação por fazer principalmente com a midiática?

Houve uma evolução muito grande. Nessa década mudou bastante e depois você tem a internet que ainda colocou outras transformações. A internet tem seguidores quase que de rádio e televisão. E então assim, mudou bastante isso. E do ponto de vista do jornalismo eu acho que quando uma coisa é feita só por profissionais prevalece. Mas tem muito a ideia do fake. Isso por um lado é ruim porque cria esses mitos, esses problemas na vida da gente, mas por outro lado fortalece o jornalismo.

Hoje sem dúvida a fonte mais segura de informação é o jornalismo. O jornalista perdeu a credibilidade em alguns momentos históricos, mas hoje não. Ele foi importante na questão da Covid, por exemplo, ele foi importante nas coberturas das eleições, agora na questão do oito de janeiro. Então, todas as questões eu acho que são importantes e que modificaram, com certeza, também o perfil do profissional.  Eu era de rádio,  eu só trabalhava em rádio. Eu era de televisão, só trabalhava em televisão. Hoje eu sou especialista em mídia e em conteúdo.

Redação: O curso de jornalismo hoje é oferecido via on-line com custo baixíssimo. Como o senhor enxerga essa facilidade de acesso ainda com a onda de influência religiosa dentro da área da comunicação nas empresas e como diferenciar com a influência política também?

Eu acho que o jornalismo existe. Agora, aquele mito do século 19 de que você tinha objetividade, neutralidade, imparcialidade, isso é um mito. Isso não existe! O jornalista não é neutro, ele também não é imparcial e o veículo muito menos, não é? Então tem seus fatores. Mas acontece que também é preciso avaliar os veículos. A audiência se torna importante. Eu trabalhei no Correio Braziliense, por exemplo, e quando o Noblat foi praticamente demitido, o Correio Braziliense perdeu 13 mil assinantes. Tudo é relativo. Você vai entendendo que todos, mas ao mesmo tempo a empresa, são importante. Porque ela (empresa) é o contraponto que a gente tem.

Redação: A gente trabalha mais com imprensa ou influenciadores, professor?

Não, eu não acredito muito no influenciador. Eu vou ser sincero. Por quê? Porque eu já falei não são as pessoas. Vamos dizer assim, o influenciador tecnicamente não é preparado e não executa um trabalho criterioso para apresentar informações. Então, eu acho que eles ( influenciadores) ocupam um espaço que tá vazio.

Tá vazio por quê? Porque a gente sabe que a imprensa não é assim fundamental pra todo mundo. Porque as pessoas querem alguma forma de informação e porque as pessoas não gostam de ler. Elas não querem fazer um tempo pra outros jornais e o que importa, isso não é nem quem é e o que não é, o que importa é a pluralidade, ou seja, se eu se eu tiver condições de ver vários pontos de informação, eu por por mim mesmo eu crio uma visão crítica.

Eu não acho isso um grande problema. O grande problema que eu acho é que nós perdemos as outras fontes de informação importantes e os outros alicerces da sociedade, como a escola. Como é a própria família e a própria religião do ponto de vista dela ser um senso de formação moral. A moral religiosa é muito duvidosa. Nesse sentido que eu acho que perdemos. Não foi culpa da empresa.

A empresa é a única que ainda não está tentando fazer o seu papel direito. Com erros e defeitos sim. Mas a sociedade também tem seus seus defeitos. Então eu acho assim, eu acho que a imprensa é fundamental em qualquer situação. O sistema democrático, um país democrático, a imprensa é algo que você não pode abrir mão de forma nenhuma. Agora a empresa precisa fazer autocrítica? Precisa, como os partidos precisam também. Como as religiões precisam e como a sociedade como um todo precisa. Mas assim, ela ( imprensa) é fundamental.

Público prestigia lançamento de livro do Luiz Carlos

Redação : O senhor falou da sociedade como um todo onde a maioria não tem acesso a informação. A influência da religião, que está cada vez mais segmentada e mais restrita, a questão da preguiça das pessoas lerem, as pessoas se informarem, a falta de opção para ouvir críticas diferentes e por último o senhor falou da questão política. O que a gente pode esperar em termos de marketing de mídia nos próximos quatro anos. O que isso significa para o profissional da comunicação?

Eu acho o seguinte, que cada vez mais a sociedade está sendo vacinada em relação a informação, sabe? Então, a credibilidade da empresa da fake news tá cada dia menor, a credibilidade da própria empresa tá cada vez menor, por quê? Porque é aquela ideia. É imensamente proporcional à distância, ou seja, quanto mais eu presto atenção na minha realidade, menos eu sou enganado. Então, se eu moro numa cidade que está esburacada, não tem coleta de lixo, não tem iluminação pública, não adianta propaganda querendo me dizer que o prefeito é bom porque não é, eu vivo naquele lugar.

A gente tem que prestar atenção na realidade e essas não me deixam animadas. A realidade começou a aparecer, ou seja, as pessoas estão começando a votar como pessoa, porque elas são como região geográfica, porque elas são como sexo porque elas são como classe social. Nós vimos isso no desempenho do nordeste, onde o melhor desempenho foi dos mais pobres. As pessoas estão vendo que elas têm que votar em quem elas representam. Mas elas têm que buscar alguém que pelo menos parece que vai representá-las. A sociedade está sendo vacinada contra a fake news. Na hora que ele (candidato) vai estar falando e contando as eleições que enfrentaram, as pessoas (eleitores) agora vão ver. Vão ver em quem votar e qual é a propaganda que vai acontecer?


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