roy rogers década de 1940 e 1950
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Para os meninos que nasceram nas décadas de 1940 e 1950 dois sonhos povoaram boa parte dos seus desejos da infância a adolescência. No primeiro momento todo menino queria ser motorista de caminhão. É que a mística de correr esse mundão de meu Deus numa boleia tinha o mesmo gosto de ser o príncipe encantado num conto de fadas. Na verdade, esse desejo materializava a ansiedade de todos em desvendar os segredos do mundo onde não faltavam aventuras heroicas e recompensas comestíveis que não dava para imaginar.

Mas esses meninos também não tiveram muito tempo para acalentar seus sonhos. Era hábito dos pais cuidadosos levar seus filhos a tiracolo para as tarefas diárias. E num país onde os mais pobres sempre foram maioria, ensinar os filhos a ganhar o pão de cada dia significava aumento da renda familiar, de verdade. É que, de cada centavo que um pequeno amealhava, uma parte ia para as despesas da casa. O resto servia para custear as matinês de domingo num cinema local ou para a compra do gibi que acabou de chegar na banca da esquina. A importância de se destacar isso não deve ilustrar apenas o processo de educação familiar da época, mas sobretudo para dar cores mais forte ao outro sonho dos, agora, rapazotes dos anos 40 e 50.

Ler gibis e ir ao cinema também fazia parte da lista de desejos da molecada. Afinal, era ali, nesses dois ambientes que se cristalizava o desejo incomum que todos tinham de se tornar um super herói. O curioso é que os mesmos “mocinhos” que causavam inveja a todos por sua coragem, força e inteligência saia das telas do cinema para as páginas das revistas em quadrinho, adquiridas e cuidadas como verdadeiros tesouros por quem s possuía.
Assim Roy Rogers, Flash Gordon, Capitão Marvel, Buck Jones, Búfalo Bill, Zorro, Batman e outros como os brasileiríssimos Jerônimo, o herói do Sertão; o detetive Anjo e seu auxiliar Metralha, se juntavam ao Fantasma , a Hércules, Maciate, e Tarzan para despertar em cada menino o desejo de ser cada vez mais forte e capaz de tudo. Nessa mesma época, o desejo de chegar aos 18 anos era tão latente que parecia impedir que a vida avançasse sobre o tempo.

E na busca da perfeição física era comum que a garotada fabricasse seus próprios aparelhos de ginástica considerando que frequentar uma academias ou mesmo um clube recreativo onde pudessem praticar um esporte com alguma regularidade, era um desejo proibido até para muitos dos mais aquinhoados, seja pela inexistência de academias ou de clubes em determinados locais, ou pela atuação dos pais em determinar o caminho que seus filhos deveriam percorrer até a idade adulta.

Como se observa, naquela época o conceito de família se fazia, sobretudo, pela inflexível obediência e respeito dos filhos a seus pais. Portanto, o que restava aos pretensos candidatos a super heróis e atletas era o improviso. Corridas de rua, cabo de guerra; brincadeira de saltar à distância e levantamento de peso. Para este último os halteres poderiam ser um pneu de caminhão ou vasilhame de querosene recheado de areia ou cascalho.
O querosene era muito usado na época, não só para gerar a luz das lamparinas ou combustível de fogareiros, e de geladeiras. Vinha em galões de cinco litros num formato retangular, o que permitia pesos importantes para quem quisesse malhar braços e barrigas.

E no improviso os rapazes conseguiam algum sucesso físico. Era comum ver um ou outro tentando exibir bíceps definidos ou um peitoral largo. E todo esse aparato se justificava pelo verdadeiro objetivo do esforço de cada um daqueles meninos em virar um sósia de um super-herói: chamar a atenção das moçoilas por quem os corações batiam em descompasso. Com o passar do tempo boa parte desses meninos ainda guardam os resultados desse esforço físico sensacional. É que, premido pelas circunstâncias e sem tempo para modernidades como as academias, o malhar do fundo de quintais serviu como um verdadeiro laboratório para criar barrigas enormes e respeitáveis, devidamente tratadas e mantidas como muita comida boa e cerveja. Afinal, que recompensa poderiam ter os sonhos se não nos oferecessem algo saboroso para os emoldurar?

Até a próxima.


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