O carnaval, as chuvas, as crenças e a ciência

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As mudanças climáticas sempre marcadas no período de Carnaval
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O carnaval é uma festa profana que traduz os prazeres da carne, enquanto as chuvas são eventos da natureza manifestados pela precipitação das gotas quando o ar satura-se de umidade. As crenças dão a motivação de nossa existência. A ciência é a resposta aos problemas da sociedade.
Os eventos ocorridos no litoral norte de São Paulo são de grandeza superlativa, inimagináveis no Brasil, com volumes de mais de 600 mm em 24h. Para melhor compreender o impacto, um milímetro de chuva corresponde a um litro por metro quadrado, logo, 600 mm equivale a 600L/m2. Imagine quase uma caixa de água de 1000L tendo que infiltrar em 1m2.

Na natureza, mesmo em áreas florestadas, o solo não tem capacidade de infiltrar chuvas de menor intensidade, dependendo das características como textura e estrutura, tipo de cobertura, declividade do terreno, dentre outros fatores, motivo pelo qual, ocorre o escoamento superficial. Imagine este volume em tão curto espaço de tempo, é um verdadeiro dilúvio na antiga capitania de São Vicente. Em média, no estado de Goiás, durante um ano, ocorrem 1493 mm de chuva, mesmo concentrados em 6 meses, não superam, em média, 330 mm distribuídos nos meses mais chuvosos, como dezembro e janeiro. No nordeste brasileiro, as chuvas de um ano somadas podem ser menores do que as relatadas pelo Cemaden, em 24 horas, entre 9h do sábado (18/02/2023) e 9h do domingo (19/02/2023), de 680 mm no Município de Bertioga.

A tempo, a Ciência tem alertado para as alterações climáticas e as consequências associadas ao desmatamento, queima de combustíveis fósseis, emissões de carbono e outras substâncias que promovem efeito estufa. A ONU já alertou que a temperatura média da Terra já está 1,5 graus Celsius acima do período pré-industrial e não podemos deixar se elevar a 2 graus Celsius.  Entretanto, o descaso com o conhecimento tem potencializado o desrespeito as leis da natureza, em especial as da conservação de massa, primeira e segunda leis da termodinâmica, possibilitando a extrapolação da capacidade de carga do planeta Terra e do uso de seus recursos.

Diante disto, se exacerbam manifestações de dissipação de energia planetária, que ocorrem com maior frequência em terremotos, maremotos, tsunamis, tornados, secas ou chuvas torrenciais. Exemplos são os recentes episódios na Turquia e Síria que retiraram a vida de aproximadamente 50.000 pessoas. Retornando ao ciclo hidrológico, o ar quente se expande e consequentemente demora mais para se saturar de umidade. Uma destas consequências é prolongar os períodos de seca e quando a umidade relativa do ar estiver elevada, a precipitação ocorrerá de forma intensa, em grande volume, mas em curto espaço de tempo.

O caso ocorrido no litoral de SP alerta para a ocupação das áreas, o planejamento urbano e regional, demandando ações preventivas prioritárias, preferencialmente às corretivas. Do contrário, o custo econômico, social e ambiental são e serão cada vez maiores se afrontarmos a natureza e o equilíbrio dos ecossistemas. Há formas de compreender como nos relacionamos com a natureza. Nossos antepassados tinham crença no Teocentrismo, pediam licença para cultivar o solo e beber a água, agradeciam o Deus Sol e outras formas de divindades pela colheita e fartura da produção.

O ser humano, ao fazer o seu próprio clone, na era do Antropocentrismo, se autoproclamou suficiente e afastou-se do criador. Talvez, tenhamos que avançar para o Biocentrismo, onde a ciência possa nos orientar pelo convencimento ou então, que a crença religiosa possa colocar a vida como prioridade no seio da humanidade.
Aos que pedem água a São Pedro nos momentos de seca, que possam também seguir os ensinamentos de São Francisco de Assis, o padroeiro do meio ambiente, preservando a fauna, a flora e os recursos abióticos, possibilitando a infiltração das gotas até o lençol freático. Guilherme Arantes em sua música nos lembra que vivemos no Planeta Água.

Ironicamente, este incidente ocorreu na semana do carnaval, lamentamos pelas vítimas, e oremos, para que na Quaresma, possamos nos redimir com a criação divina, respeitando os ensinamentos de Deus. Se não o fizermos por consciência, que o façamos por penitência.

 

Este texto foi publicado originalmente no dia 21 de fevereiro de 2023 após o Carnaval. A imagem é de 2024.

 


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